
Praxis & poiesis
VÍDEOS E TEMAS
Leitura importante
Os textos filosóficos
Os primeiros filósofos gregos, em sua maioria, praticavam ensinamentos orais. Aqueles que produziram textos escritos geralmente utilizaram a forma poética. Havia também filósofos, como Sócrates, que se recusavam a escrever suas ideias. Consideravam a escrita inimiga da memória: se escrevemos, já não precisamos lembrar, e isso enfraquece o pensamento.
Em sua prática filosófica, Sócrates caminhava pelas ruas de Atenas, principalmente pela praça do mercado, onde circulava mais gente, e conversava com as pessoas. Em geral fazia perguntas que levavam o interlocutor a cair em contradição e, em seguida, a penar sobre a inconsistência de sua opinião, inicialmente considerada certa e verdadeira. Por isso, dizemos que sua prática era discursiva (baseada na fala) e dialógica (fundamentada no diálogo, na conversa).
Sócrates dizia que, assim como sua mãe havia sido uma parteira, que dava à luz as crianças, ele queria dar à luz as ideias. Seu estilo filosófico ficou então conhecido como maiêutica, isto é, ‘o parto das ideias’.
Filosofia e opinião
Qual é a sua opinião sobre a política? O que você pensa sobre a liberdade? Para você, o que é uma amizade verdadeira? Perguntas como essas costumam surgir em rodas de conversa entre amigos. Para responde-las, você reflete, cita exemplos, faz comparações... Mas será que está utilizando o pensamento filosófico?
Veja o que diz o sobre isso o filósofo francês Gilles Deleuze: “É da opinião que vem a desgraça dos homens”. Isso porque a opinião é um pensamento subjetivo, uma ideia vaga sobre a realidade, que não tem fundamentação e na maioria das vezes nem pode ser explicada. É comum, por exemplo, alguém dizer que é contra ou a favor de determinada situação sem motivo concreto, talvez por uma reflexão apressada, por superstição ou crença. “É uma questão de opinião”, justifica a pessoa. Fica claro que dessa forma, ao emitir uma opinião, você não está pensando filosoficamente. É muito fácil manipular as opiniões das pessoas não dispostas a pensar sobre elas. Os meios de comunicação, por exemplo, fabricam ideias e desejos por meio da propaganda e de sua grade de programação [...]. As respostas já vêm prontas, como nos livros de autoajuda. Formadores de opinião também exercem grande influência sobre o modo de pensar da sociedade e podem mudar as opiniões alheias. São personalidades do esporte, da televisão, do teatro, líderes religiosos, professores.
A filosofia, diferentemente, é uma prática de elaboração própria de ideias. Ela também parte da opinião, mas a recusa como verdade e vai além dela. Busca uma reflexão mais sólida e fundamentada, por meio da qual o ser humano se realize em sua capacidade racional. As ideias elaboradas dessa forma podem ser defendidas com argumentos consistentes. Não é difícil concluir que as pessoas que pensam por si mesmas, que não se acomodam às
ideias prontas e não aceitam viver no “piloto automático” têm melhores condições de se tornar cidadãos mais atuantes, exercendo seus deveres e exigindo seus direitos na sociedade. A prática filosófica humaniza as pessoas, tornando-as mais livres para pensar de forma crítica e criativa, capazes de transformar positivamente a si mesmas e ao mundo que as cerca. (pp.17-19)
(GALLO, Sílvio. Filosofia: experiência do pensamento: volume único / Sílvio Gallo. 2. ed. São Paulo: Scipione, 2016.)
19 - 3622-2220 (Escola)